UMA MULHER E TRÊS AMORES: FAMÍLIA, JORNALISMO E ESPORTE

Vanessa Faro mostra seu cantinho na redação da TV Tribuna. Foto: Vinicius Ramos

Ela já estava pronta para mais um dia de trabalho no lugar que no início não imaginava trabalhar. A televisão não era o que realmente sonhava quando concluiu o curso de Jornalismo da Universidade Católica Santos, em 1992. Sua intenção era de ter seus textos impressos numa revista. A menina que escrevia poemas, conseguiu o feito, mas foi na TV que Vanessa Faro consolidou sua carreira. Hoje é apresentadora, repórter e editora na TV Tribuna em Santos, há mais de vinte anos. Apresenta o Tribuna Esporte e Corpo em Ação. Apaixonada pela família e pelo esporte, Vanessa conta numa entrevista intimista sobre a família, o seu jeito e trajetória no Jornalismo.
Simplicidade e simpatia é o que fica como primeira impressão. O carisma revelado através de uma rede social se mostrou presente também pessoalmente, quando mostrava os bastidores da televisão antes de entrar ao vivo no Tribuna Esporte. O “tour” por diversas áreas da emissora revela a loucura e o envolvimento que é fazer televisão ao vivo. Nos corredores da emissora, percebe-se que o relacionamento dela com os outros é de muito carinho e respeito, até mesmo com aqueles de pouco contato. “Sou o mais novo na redação e desde sempre, ela me ajudou e ainda ajuda com dicas legais. Afinal, ela é uma grande referência do jornalismo esportivo aqui na Baixada. Uma pessoa incrível, alegre e sempre disposta a ajudar.”, disse o colega e repórter Renan Fiuza.
A parceria de longa data na casa revela o seu jeito no ambiente de trabalho e o tratamento com os colegas: “Trabalhar com a Vanessa é muito bacana. Ela é uma pessoa sensacional, de caráter e boa convivência. Além da educação e carisma. Onde ela passa só faz amigos! É uma pessoa que eu gosto muito e que tenho muita admiração. É como uma irmã.”, comenta o repórter cinematográfico Toninho Pinheiro, com quem trabalha em reportagens do “geral” (matérias que englobam diversos assuntos) e do jornalismo esportivo desde o início da carreira na TV Tribuna.
A paixão pelo esporte lhe trouxe oportunidades e foi responsável por mudar a sua trajetória no Jornalismo. Ter sido a primeira mulher setorista nos anos 2000 a fez romper o preconceito e mostrou que era nessa área que deveria seguir. Foi o esporte, o motivo de matérias tão especiais, seja na Baixada Santista ou em qualquer lugar do mundo. Afinal, Vanessa Faro cobriu importantes eventos esportivos como as Olimpíadas de Pequim 2008 e o Mundial de Judô na França em 2011.
Apesar de muitas histórias e experiências marcantes na carreira, a família é um de seus pilares. O amor e o carinho que dedicou e recebeu dos pais foi essencial para a sua formação. Vinda de berço cultural, hoje Vanessa tenta repassar os ensinamentos que teve na infância para sua filha, irmão e sobrinho, e articula o tempo para não só se dedicar ao trabalho, mas também à família, que a torna cada vez mais sensível e humana. “O trabalho me trouxe tudo que eu tenho hoje, mas além do trabalho eu tenho outras prioridades que me ajudam a ser a profissional que eu sou".
Vanessa Faro se preparava para entrar ao vivo no Tribuna Esporte. Foto: Vinicius Ramos

Como surgiu o interesse pelo Jornalismo?
Desde criança eu sempre gostei de escrever, de escrever poesia e sempre gostei de viajar. Eu sempre gostei de muita coisa, de teatro, de arte. Quando era pequena gostava de política, hoje em dia não posso nem ouvir falar porque é decepcionante. Eu queria fazer alguma diferença no mundo, deixar minha marca ou tentar uma maneira de ajudar as pessoas. O engraçado é que o Jornalismo veio como uma profissão que dava para englobar tudo isso, tanto a parte de você poder escrever, quanto você se expressar, como deixar a sua marca, como ajudar as pessoas e de poder viajar. Não fui para área da política, mas fui para o esporte e acabei me realizando com isso. No esporte você pode conhecer várias histórias, várias pessoas. Pode conhecer um pouco de cada profissão também. Eu me apaixonei.
Por onde passou antes de entrar na TV Tribuna?
Na época da faculdade eu fui fazer estágio na Rádio Cacique, com Nísio Lemos. Acordava às cinco da manhã e ia pegar um jornal numa banca na Rua Tolentino Figueiras, no Gonzaga e voltava para poder entrar no programa da rádio e ajudar o Nísio Lemos. Depois na faculdade, uma amiga que hoje é uma das minhas grandes amigas, que chamo até de minha outra irmã, queria trabalhar em TV e eu queria trabalhar em revista. Na época a emissora que tinha aqui e que ficava na Capitão Moura Aguiar em São Vicente, era a TV Litoral que hoje é a TV Santa Cecília. Quem trabalhava na TV Litoral era o Eduardo Silva, que hoje é o Gerente de Jornalismo da TV Tribuna. O Eduardo era o nosso professor de Rádio e ele fazia produção num programa esportivo e essa minha amiga Ivana Montemurro, ela pediu para o Eduardo se ela podia ir na emissora para conhecer e ele falou que podia. Ela me levou junto porque não queria ir sozinha. O Eduardo trabalhava em um programa esportivo e no dia da visita ele saiu para fazer os jogos abertos e deixou a gente para substituí-lo na produção. Estranhamos a atitude dele, mas no final deu certo. O pessoal gostou da gente, continuamos depois na TV Litoral e fazíamos produções de coisas do “geral” e entrávamos durante o comercial. Quando me formei, estava abrindo a TV Tribuna e estava o Carlos Manente, o nosso primeiro editor e que também foi nosso professor de TV e ele me viu fazendo uma matéria, inclusive para a TV Litoral de triathlon internacional e como falo inglês, por ter feito intercâmbio, ele me viu falando em inglês com alguns atletas americanos, australianos, e aquilo chamou a atenção dele. Quando teve teste na TV Tribuna e ele me chamou a acabei me tornando das primeiras contratadas. Como estava no começo da emissora, nós ficávamos treinando e aquilo não estava me completando, e aí eu passei num concurso da editora Abril e larguei tudo para fazer esse concurso. Minha mãe até dizia que eu era louca. Fiquei um mês na Revista Capricho e um mês na Revista Manequim, depois fui trabalhar num jornal do Guarujá, onde fiquei por quase um ano. Logo depois engravidei e fui morar em São Paulo com o meu ex-marido que é de Santos e fiquei trabalhando com outras coisas lá. Só que não deu certo e eu voltei pra Santos. O Manente estava montando o Jornal da Tribuna Primeira Edição, e quem apresentava era a Renata Canales. Ele queria uma outra apresentadora e me trouxe para fazer o teste. Eu não passei. Quem passou foi a Paula Coalhato, que é uma amiga minha, uma pessoa que eu adoro e eu fiquei em “stand-by” do Eduardo Silva, que já trabalhava na TV Tribuna há um bom tempo e apresentava o que é o nosso Tribuna Esporte hoje. Eu fui recontratada no dia primeiro de abril de 1996, então estou desde esta data este na emissora.
Você foi setorista do Santos Futebol Clube pela TV Tribuna, como foi essa experiência?
Eu fui a primeira setorista mulher de TV aqui em Santos. Quando eu comecei a fazer não tinha muita mulher no esporte, só ficava eu no treino. As vezes vinham algumas outras repórteres como a Alessandra Zamari, depois veio a Adriana Bitar, Patrícia Maldonado que trabalhava no SporTV, mas elas não eram setoristas do Santos. A única mulher setorista foi eu e era diferente. Hoje em dia, no treino do Santos, você nem pode entrar. Hoje, as vezes é um curto período que é liberado para a imprensa e quem faz é o Renato Cury. Na época que eu fiz haviam treinos em dois períodos e eu tinha que acompanhar o tempo inteiro. Quando eles iam viajar para o interior, eu tinha que ir junto, acompanhando a temporada do time. Para eu conseguir a vaga já foi difícil. Eu ia substituir nos finais de semana os repórteres. Antes quem eram setoristas do Santos foram o próprio Eduardo Silva, Vladir Lemos, André Argolo, Luciano Faccioli e o Abel Neto. Quando o Abel foi para São Paulo, eu fui substituí-lo e ele foi contratado e eu fiquei com a vaga. Eu fazia matérias diferentes para poder chamar atenção do pessoal da emissora para poder ficar com a vaga. Eu procurava mais a parte do comportamento, da família dos jogadores e era mais difícil porque eu tinha que conseguir uma matéria nova e diferente todo o dia. Mas eu tinha mais contato com os jogadores porque eles entravam pelo mesmo lugar que a gente.
No começo eu sentia que o pessoal olhava desconfiado: “Quem é essa menina que está aqui? Será que vai dar conta?”. Os próprios jornalistas e radialistas ficavam olhando, mas depois de um tempo eles falavam comigo de igual para igual; para pegar informação, saber quem estava pendurado e isso para mim foi uma vitória pessoal muito grande. Mas confesso que não foi fácil.
A experiência como setorista foi a sua maior dificuldade no início da carreira?
Eu tive várias dificuldades no início da carreira, porque na verdade você sai da faculdade sem saber nada, desculpa. Porque o nosso trabalho é no dia a dia. E como eu falei, na época só tinha Unisantos e não tinha uma TV dentro da faculdade para você treinar. Hoje em dia há faculdades que tem isso e acredito que muitos alunos acabam saindo muito mais preparados. De qualquer forma o que você enfrenta no dia a dia é totalmente diferente e isso assusta. Por mais que você saia com toda teoria na cabeça, no Jornalismo a prática é que vai valer. A sorte é que a TV estava começando, nós tínhamos grandes mestres aqui. Tanto o Eduardo Silva, quanto o Carlos Manente, a Cristina Guedes. Eram pessoas que já entendiam muito de Jornalismo e eles passavam isso para nós. Faziam questão de estar ensinando. Quem começou comigo foi a Elisabete Pacheco que hoje está na Globo News. Éramos até chamados de “Produtor-repórter”, função que não existe mais hoje, mas na época fomos contratados assim. Fazíamos a produção e saíamos na rua para produzir a reportagem. Eu fazia “geral” e tive muita dificuldade com matérias que eu não entendia tanto do assunto, porque a gente não consegue entender tudo. Não vou ser hipócrita por falar isso, eu sou muito verdadeira nesse sentido. E quando eu ia fazer matéria do porto eu queria, morrer! (risos). Eu não entendo de porto e aquilo para mim era um bicho de sete cabeças. Eu tinha muito medo de escrever e de estar errado o texto ou de me criticarem e acho que muita gente sai da faculdade assim, é normal. Na verdade, você tem que ser “cara de pau” no Jornalismo, eu tive que aprender isso no dia a dia. O começo foi penoso, aos poucos você vai ganhando confiança e foi isso que escolhi é isso que eu gosto.
Você sempre esteve ligada ao esporte?
Eu sempre gostei de me movimentar, de fazer exercício, desde pequena. Fiz nove anos de balé clássico, fazia academia que nem louca, mas eu sei que é uma coisa que sempre me deu prazer. Engraçado que quando eu comecei no Jornalismo aqui na TV, justamente a matéria que me colocou aqui foi a de ‘triathlon’ internacional, de repente era um sinal. Mas eu sempre gostei das matérias de esporte, sempre gostei do universo do esporte porque eu acho que é um universo mais solar, mais leve. Você consegue trazer mais alegria para as pessoas, mas na verdade o que me chamou atenção no esporte no começo foi que eu tinha mais facilidade para escrever matérias esportivas do que matérias do “geral”, me sentia mais à vontade, meu texto fluía e eu podia usar minha criatividade de uma maneira melhor. Não é que eu não saiba escrever. Se eu tiver que fazer uma matéria do “geral” eu vou fazer, mas quando é matéria do esporte eu acho que desenvolvo muito mais fácil. Nem a minha saudosa mãe, jamais imaginou que eu fosse trabalhar no esporte e principalmente no futebol. Quando eu ia fazer os jogos do Santos ela dizia: “Eu não consigo acreditar que aquela minha menininha (...), não dá! Não entra na minha cabeça isso!”. Meus pais nunca me levaram ao estádio de futebol. Eu fui depois de velha, já adulta! Não era uma coisa que estava enraizada em mim. Eu via na faculdade que tinha algumas meninas que iam ao estádio e não era minha realidade. Na época da faculdade eu não imaginava que iria trabalhar na TV e com o esporte.
Você fez coberturas internacionais, qual delas foi a mais marcante?
A matéria que me marcou foi a do “Spartathlon” na Grécia. Eu fui acompanhando o ultramaratonista Valmir Nunes. Ele já havia vencido essa prova em 2001 e em 2003 nós fomos, um pouco antes das Olimpíadas de Atenas, onde aproveitei para fazer matérias da preparação para a Olimpíada da Grécia. Acho que essa matéria foi um divisor de águas na minha vida. Além de ser um lugar que eu sempre, a minha vida inteira, desde criança, sempre sonhei em ir. Eu me apaixonei pela Grécia, me apaixonei por Atenas e foi uma matéria que eu mais gostei de fazer. Fomos acompanhando o Valmir correndo de Atenas até Esparta. Acompanhamos os dias que antecederam e após a prova. Vimos realmente o sofrimento do atleta e vivenciamos isso. Fui com o cinegrafista Toninho Pinheiro, que na época era meu parceiro de matérias do esporte. Era de manhã até a noite, nós trabalhamos muito. Valeu cada segundo, foi fantástico. Foi uma viagem que eu teria a vontade de reviver.
Das suas coberturas esportivas de eventos internacionais, estar no Brasil foi melhor ou você já estava acostumada com isso?
Eu gosto de desafio. Gosto de viajar porque eu sempre gostei de estudar essa parte de cultura e história. Nos jogos Olímpicos de Pequim eu fiquei maravilhada pela estrutura que eles criaram, pela organização, pelo trânsito caótico; não sei como eles não batem o carro lá. O meu parceiro na época era o saudoso Wagner Tavares, grande cinegrafista e editor. E foi mágico, eu pude ver a conquista de mais uma medalha de bronze do Leandro Guilheiro. Nós acompanhamos os atletas. Aconteceram várias situações muito interessantes. Foi um sonho. Até os atletas falam que foi um dos mais organizados.
Agora, é claro! Quando você chega aqui no Brasil, como por exemplo, na época dos Jogos Pan Americanos Rio 2016, foi tão legal porque tinha toda aquela expectativa de vir depois uma olimpíada para o Brasil. E tivemos uma estrutura muito legal aqui da TV Tribuna. Nós mandamos vários profissionais, só estava eu de mulher e tinha o Leonardo Zanotti, o editor de imagem Marcelo Junqueira, e dois cinegrafistas, o Paulo Tavares e o Toninho Pinheiro. Nós fomos a única afiliada do Brasil que fez parte da cobertura dos jogos Pan Americanos e a gente dividia a sala junto com a Globo que tinha toda a estrutura lá. Por ser uma emissora menor, a TV Tribuna fez história, para nós foi marcante. A Olímpiada no Brasil é claro que você se sente mais em casa, porque você tem mais facilidade por estar lidando com os atletas, com os familiares que foram ver e nesse ano a gente fez um lado diferente. Como a Globo estava acompanhando tudo interno, então nós fizemos o labo “B” da olimpíada, mostramos os familiares, o pessoal que estava em volta, foi bem legal, foi diferente.
Falando do lado pessoal, você gosta muito de rock. Como foi a experiência no seu segundo o Rock in Rio?
No primeiro ano eu fui com meu irmão e minha filha e neste segundo mais uma vez com eles, que são os meus parceiros de aventura. Esse ano foi engraçado porque, veja bem: Eu sou fã do Bon Jovi, e eu tinha que ir nesse show. Nós fomos em três dias, então no dia do Bon Jovi eu fiquei super feliz porque teve também Tears for Fears que é da minha época. Eu amava/amo e foi demais! No outro dia teve Guns n’ Roses e Red Hot Chili Peppers, foram demais! E teve algumas apresentações históricas para mim: Titãs e Capital Inicial, foram marcantes, porque fizeram parte da minha adolescência. Foi mágico. E poder ver o meu irmão e minha filha curtindo o mesmo som, foi muito legal. Eu nem fiz questão de ir na parte Pop eu queria ficar na área do rock, meu negócio é rock. (risos)
Você tem uma conta no Instagram com seu irmão e sua filha, o “Seguindo Faro”. Qual o principal objetivo deste perfil?
Eu sou muito ligada em família. Os meus pais eram maravilhosos (Maria Elisabete, que era conhecida como Maria Faro e o Marcílio Bragheta), não é porque eram meus pais não. Eu sempre tive muita sorte. Eles sempre me proporcionaram desde pequena a cultura. Me levavam muito ao teatro para ver espetáculos, musicais, balé clássico. Eles me proporcionaram esse lado artístico. Eu acordava em casa e tinha música todo dia. Minha mãe adorava MPB. Tive muita musicalidade. Só que aí eles faleceram (...). Meu irmão é 20 anos mais novo que eu, mas a gente ainda conseguiu passar isso para eles (irmão e filha). Eu me divorciei quando a Bruna tinha pouco mais de um ano, então eu voltei de São Paulo e fui morar na casa dos meus pais. Era uma grande família "trapalhada". Morava junto com meus pais, meu irmão, minha filha e minha avó materna, além de um cachorro e um gato, todos num apartamento. Procurei passar isso para o meu irmão, meus pais faleceram, o Lucas tinha 16 anos. Quando eu criei o “Seguindo Faro”, foi num sentido do lado cultural e da família. Acho que o mundo está tão louco hoje em dia e é muito legal você mostrar a família, o afeto, que você pode fazer tudo junto. O canal seguindo Faro foi para isso: valorizar a família. Até para mostrar depois para o Bernardo, meu sobrinho que está com 4 anos. Achei divertido.
Sobre as suas atividades esportivas: O Crossfit é uma atividade que você sempre fez?
Não. Quando lançaram o Crossfit em Santos, eu fui com o meu irmão. Ele que descobriu o Crossfit e gosta muito de esporte. Eu me perguntei se iria aguentar levantar peso, mas fui, fiz e me apaixonei. Só que eu sou oito ou oitenta e fui numa época que eu queria abraçar o mundo do esporte, então eu fazia Crossfit, corrida, canoagem, aula de dança e fazia também stiletto, que é a dança no salto alto. Conclusão: estourei meu pé e ainda fui correr a São Silvestre, com o pessoal do SESC. Quando eu cheguei no meio da corrida eu não aguentava mais a dor no pé, eu terminei de teimosa. Com isso eu fiquei um ano sem praticar corrida, não conseguia nem andar. Achei que nunca mais fosse poder voltar a correr, mas eu fui melhorando aos poucos e voltei para o Crossfit. É apaixonante. É um desafio pessoal. O Crossfit ele é muito marginalizado até mesmo por atletas, porque acham que vai ferrar com a coluna, com o joelho, mas tudo depende de como você faz, a carga que você faz e a orientação que você tem, principalmente. Tudo é uma questão. É um esporte que você consegue ver a evolução. E eu adoro desafios e fico muito feliz. É muito legal e considero como uma terapia. Eu tenho necessidade de praticar esportes, porque que sou uma pessoa muito ansiosa e o meu irmão também, então para a gente o esporte é uma questão de saúde. Eu tive a Síndrome do Pânico quando minha mãe foi diagnosticada com o câncer de mama, o psiquiatra na época, saudoso doutor Fábio Olivieri, que já faleceu, dizia que era o meu remédio além dos medicamentos, porque é uma questão química que falta no teu organismo, não tenho vergonha nenhuma de falar isso. Até falo porque tem muita gente que tem que se tratar e tem esse preconceito. Então o Crossfit veio como um remédio para mim. Sempre gostei de esportes, mas não coisas com bola porque eu sou atrapalhada. Sou aquela que está andando na praia e leva uma bolada. Já tentei, mas eu sou meio atrapalhada com isso. (risos)
Você participou de um projeto chamado Humanos de Santos, onde você ficou muito emocionada. Foi muito difícil falar principalmente sobre seus pais?
A mesma diferença de idade que eu tinha com minha mãe eu tenho com o meu irmão e nós éramos muito próximas. Eu era muito amiga dos meus pais e ela acabou sendo diagnosticada com câncer e foi muito difícil. Quando a pessoa tem câncer, costumo dizer que não é só ela que fica doente, a família inteira fica doente. Realmente foi um sofrimento, porque minha mãe sempre foi uma mulher super pra cima, animada, sempre foi muito bonita, não estou falando porque era minha mãe. Era uma pessoa iluminada, chamava a atenção. Sempre foi uma presença muito marcante na minha vida, além de ser mãe, e foi muito difícil perdê-la e meu pai já estava num estágio de doença neurológica e ele sempre foi um homem super inteligente. Você ver um homem que chegou a ser professor de faculdade, naquela situação, que se torna depois um estado degradante, é muito cruel e é muito difícil você trabalhar com isso. Hoje eu consigo falar sem chorar, mas é muito complicado. Todo mundo tem as suas dificuldades, todo mundo passa por muitas dificuldades na vida, isso é óbvio. Não foi só eu que passei por isso, mas é difícil quando acontece com a gente. Por mais que eu tenha uma filosofia que realmente eu acredite que a vida não termina aqui, é complicado você separar da pessoa, do contato físico, da voz, do cheiro... É muito triste. Eles diziam: “Você foi gerada com amor, sempre foi muito desejada!” É uma coisa que eu sinto falta. Quando você perde um pai, uma mãe, a sensação que você tem é de ficar órfã mesmo, perde um pouco seu chão, sua referência. Acho até que o Seguindo Faro, foi uma tentativa de resgatar esse vazio que ficou.
Como foi o momento da despedida de sua filha que foi fazer intercâmbio nos EUA?
Eu fico pensando: eu fiz intercâmbio quando era adolescente, eu corri atrás e fiz um ano, numa época que não tinha internet e nem celular. Era telefone discado e que era uma fortuna. Então você só podia ligar para uma pessoa no domingo e em um horário que fosse mais barata a ligação. Eu não sei como meus pais aguentaram. É muita prova de amor e eu sei que o intercâmbio mudou a minha vida. Foi muito importante, até para conseguir depois um emprego por conta do inglês. A minha filha tem um espírito muito parecido com o meu de gostar de cultura e de conhecer o mundo. Eu falo que ela nasceu com uma rodinha nós pés, ela tem muito disso. Eu achava que o intercâmbio para ela iria ser muito bom, mas eu sempre fiquei na minha. Ela descobriu esse intercâmbio na Disney, que são três meses de trabalho e já estava há três anos tentando e só conseguiu passar neste ano. Me sinto muito orgulhosa. De ver que ela foi sozinha, batalhou sozinha. Recebeu “não”, ficou mal e não foi fácil. Foi uma lutadora, isso eu gostei muito de ver. Fico muito feliz com isso. É aquela coisa de mãe de acabar se realizando com o filho. O mais difícil foi quando eu cheguei em casa e vi que ela não estava lá e olhei aquele quarto vazio. Gente, eu chorei que nem louca!
Sua filha sofreu influência na escolha do Jornalismo?
Não. Foi uma surpresa. Eu sou casada com o Eduardo Silva, a gente acabou se reencontrando depois de eu ter me separado e ele também. Ele conhece a Bruna desde que ela era bebê, então eles têm uma afinidade muito grande, é engraçado isso. A Bruna estava se formando no ensino médio e acabou indo morar numa casa onde eu sou Jornalista e o Edu também, acho que não tinha como escapar. Mas nem eu e nem o Edu, nunca falamos para que ela fizesse Jornalismo. Foi ao contrário, até porque o Eduardo sabe dos perrengues, por estar há muito tempo na profissão, e toda profissão, mas o Jornalismo em especial, você tem que amar muito, porque se não você não aguenta o tranco. É uma profissão que você vai trabalhar Natal, Ano Novo, feriados, essas datas não existem para você. Quando eu fui setorista do Santos, eu não passava as férias escolares com a minha filha. Eu perdi uma parte do crescimento da Bruna, até deixei de ser setorista para poder estar mais perto da minha filha. Claro, ela morava com meus pais, então eu estava tranquila. De repente se eu não morasse com meus pais eu acho que eu não teria enfrentado essa de ser setorista. Acho que teria aberto mão desse sonho. Eu fui até onde eu sei que dava, justamente por isso, porque ela me via viajar muito, ficar muito tempo fora de casa, em horários malucos de trabalho. Nunca achei que ela fosse fazer Jornalismo por causa disso, porque ela via a dificuldade que eu passava no dia a dia. Mas por um outro lado, ela descobriu que gosta muito do Jornalismo agora, depois que ela terminou a faculdade. No começo, ela ainda tinha dúvidas e eu tive as mesmas dúvidas que ela, mas eu insistia que era normal. No meu terceiro ano de faculdade, por exemplo, eu quase prestei a Faculdade de Artes Cênicas, pois eu sempre gostei de teatro. De repente a minha vida teria sido totalmente diferente. E por causa da comparação. Como ela é enteada do Edu e é minha filha, muita gente compara. E isso é cruel, é muito ruim. Eu me preocupo com ela em relação a isso, porque ela não pode ser comparada a mim, nem ao Eduardo, ela é ela.
Em entrevista a Unisantos em outubro de 2015 você disse:“...Nós apenas somos os privilegiados narradores dos fatos. Temos a oportunidade de entrar em vários mundos, da periferia até a alta sociedade, tudo graças ao jornalismo. Essa é a oportunidade de uma vida. De aprender sobre a humanidade. De crescer como pessoa. Por isso que eu digo, sou jornalista com muito orgulho!”. O que aprendeu a mulher e jornalista nesses dois anos que passaram?
Olha, quando a gente pensa que não podemos aprender mais nada nos damos conta que não sabemos de nada. Temos que aprender cada vez mais e temos que nos reinventar sempre, a nossa área está mudando muito rápido. Você vê que muita gente assiste TV, mas a internet acaba sendo, o que a gente pelo menos vê como o futuro. Como jornalista, é uma profissão que não dá para ficar parado, você tem que estar aprendendo, reinventando sempre. É um aprendizado diário. Nesses anos procurei não estar parada, não estar acomodada, estar sempre em busca de alguma coisa diferente para poder estar me realizando nesta profissão.
Estou aprendendo a dividir o meu tempo não só para a profissão, mas para ter qualidade de vida. A apesar de ser apaixonada pelo Jornalismo, disso estar enraizado, existe um mundo aí fora. Um mundo além da notícia. É uma cosia que você tem que aprender a equilibrar, a ser realmente humano, a valorizar os momentos que você tem com a sua família, com seus filhos, com sua casa, aprender a conectar mais isso. Hoje eu me sinto mais calma nesse sentido, estou bem casada, amo o meu marido, me sinto amada, tenho a minha filha que está seguindo os passos dela, espero que o meu irmão consiga seguir os dele, tenho o meu sobrinho. Vejo que a minha realização familiar é fundamental para que eu seja feliz. Claro! Eu não sei ficar sem trabalhar, eu não sei o que eu faria sem isso aqui, sinceramente. Ficaria perdida. Mas essa parte familiar é fundamental. Porque tem muita gente que coloca o trabalho em primeiro lugar ou a família em primeiro lugar, e eu tenho procurado encontrar um equilíbrio entre os dois nessa parte da minha vida. O que diferencia um grande jornalista daquele mediano, é quando ele sabe usar a sensibilidade, quando sente isso. Quando consegue transmitir a história com esses princípios. O trabalho me trouxe tudo que eu tenho hoje, mas além do trabalho eu tenho outras prioridades que me ajudam a ser a profissional que eu sou.
Em sua mesa, fotos com o irmão Lucas Faro e sua filha Bruna Faro durante o Rock in Rio 2017.
Foto: Vinicius Ramos

**Texto disponível também na Agência ESAMC Santos

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